Franciele sabe que, pela manhã, ao chegar ao seu trabalho, na Rua Marechal Floriano, haverá sujeira na rua e na calçada e, muito provavelmente, alguns dos contêineres do seu setor estarão com o lixo jogado no chão. Mesmo consciente de que havia limpado tudo na véspera e, no dia seguinte, a situação será a mesma, ela fará a varrição do trecho da Marechal que fica entre a 20 de Setembro e a Jacinto Madalozzo, no bairro Pio X.
Franciele não faz isso repetidamente somente porque é funcionária da Codeca. “Eu gosto do meu trabalho, porque eu sei que muitas pessoas que passam por aqui ficam felizes por ver a cidade limpa e percebem o nosso valor”, explica. Hoje, 16 de maio, Dia do Gari, vamos contar a história dela, essa mulher de sorriso largo que, de segunda a sábado, sai da sua casa para cuidar de Caxias do Sul.
Faz 10 anos que Franciele Macedo da Costa dos Santos prestou concurso para trabalhar na Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), por sugestão de um tio. Passou, foi chamada e, desde o início da jornada, trabalha nesse mesmo setor da cidade: “É muito bom trabalhar na Marechal, eu fiz muitos amigos nesse período. Por aqui, as pessoas nos deixam ir no banheiro, cumprimentam, conversam. Minhas colegas contam que, em outros setores, querem cobrar R$ 1 para que elas usem o banheiro”.
Essa diferença de pensamento entre os mais de 500 mil habitantes da maior cidade da Serra Gaúcha é percebida com certa frequência por Franciele. Ela conta o que aconteceu em uma das muitas ocasiões em que estava varrendo o lixo que havia sido espalhado para fora de um contêiner: “Um senhor veio dar uma força, dizer que me via todos os dias limpando e que era triste que sujassem durante a noite. Um outro homem que passava, ouviu a conversa e respondeu: ‘é o trabalho dela’. Não, não é porque tem alguém limpando, que os moradores precisam sujar”. Franciele conta que ficou ficou chateada e completa a história dizendo que os funcionários da Codeca são seres humanos, têm família. Ela, por exemplo, é casada com o Marcos e mãe da Eduarda, de 15 anos, e do Miguel, de 7.
Mora em um bairro em que o recolhimento de lixo não é diário e, por isso, por lá, a família já sabe que só se coloca os resíduos na rua no dia da coleta. “Se as pessoas se informassem e guardassem em casa até o momento de o caminhão passar (confira dias e horários neste link), as lixeiras não ficariam lotadas e nem com lixo ao redor”, ensina. Mas não é isso que ela encontra quando circula por Caxias do Sul ou faz seu trabalho na Marechal. Ao comparar com quando começou, diz que a cidade está mais suja, tem mais moradores de rua, oferece menos sensação de segurança. No inverno, chega e sai no escuro, o que causa um pouco de medo.
Mesmo assim, segue em frente, superando as situações que desanimam. “Muitas pessoas não recolhem as fezes dos seus cachorros. Outras, até fazem isso, mas deixam o saco plástico na calçada. O que adianta?”, questiona. No dia a dia de trabalho na rua, também é comum encontrar pedaços de móveis e madeira dentro de contêineres, o que não é a orientação. Nesses casos, faz foto e manda para o supervisor para que a situação seja resolvida. No dia seguinte, a cena se repete com outros materiais que não devem ser descartados ali. Reforçamos: a Codeca mantém o Ecoponto, o lugar correto para se levar eletrônicos, móveis e outros objetos que não fazem parte do lixo seletivo. “Falta interesse das pessoas de fazerem o correto e, principalmente, empatia por nós. Dizem que se não sujarem, nós ficaremos sem emprego, não é nada disso. Eu estou aqui também para varrer as folhas, que não são lixo, são a natureza, mas podem deixar a calçada escorregadia e precisam ser varridas. Se cada um cuidar um pouco, eu vou trabalhar melhor e a cidade será mais bonita”, reflete.
É por essa consciência e pelo trabalho que realiza, cuidando de Caxias do Sul, que ela foi escolhida para abrir a série Personagens da Cidade, que terá uma história por mês aqui no blog. No Dia do Gari, a nossa crença de que somos responsáveis pelo lugar onde vivemos se torna ainda mais forte, impulsionada especialmente pelo que move Franciele: “eu sou feliz no meu trabalho porque eu faço a diferença na cidade”. Faz mesmo, Fran. Obrigada!
Parabéns pela matéria 🌸
Feliz dia do Gari