É impossível falar de segurança sem levar em conta a realidade brasileira, que apresenta problemas estruturais relacionados a educação, infraestrutura, moradia, violência e tantos outros aspectos. Todos eles afetam a população, e a superação do desafio da segurança só será efetiva quando o problema for tratado na raiz. Há formas de tornar os espaços públicos mais seguros e possibilitar que as pessoas se sintam mais à vontade ao caminhar pela cidade.
A segurança física e psicológica de alguém diz respeito à sua integridade física, a sentir-se confortável, e não vulnerável, ao estar em espaços públicos. Muitas pessoas se sentem inseguras ao caminhar em determinados locais, mas não sabem dizer o porquê. Felizmente, existem inúmeros estudos que mostram a relação entre pessoas e ambiente urbano (isso não é de agora, já faz décadas) e que nos permitem entender um pouco sobre isso. Essa relação não é simples, pois envolve muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. Mas, de maneira simplificada, a segurança está ligada tanto a aspectos sociais quanto a características do espaço em si.
Vejamos alguns exemplos de situações que contribuem negativamente para a segurança:
ruas com carros em alta velocidade e calçadas muito estreitas podem causar sensação de perigo nos pedestres;
mobiliário urbano (como bancos, placas, postes de iluminação e paradas de ônibus) mal projetados ou sem manutenção podem causar acidentes, além de não cumprirem sua função ou, ainda, passarem a ideia de abandono;
espaços abandonados ou vandalizados aumentam a percepção de insegurança;
pouca visibilidade (seja por barreiras visuais ou por falta de iluminação) prejudica a ‘sensação de controle’ de quem está em um espaço e pode causar sentimento de insegurança, além de prejudicar a vigilância natural das outras pessoas;
barreiras físicas dificultam a circulação de pessoas e também a fuga em caso de necessidade, o que pode gerar receio em caminhar em alguns locais (principalmente nas mulheres);
especialmente em áreas residenciais, poucas janelas/portas no nível da calçada, grandes extensões de muros e inexistência de permeabilidade visual para o interior dos lotes não promovem interações sociais, além de não permitirem a vigilância natural para a rua;
presença de atividades como tráfico de drogas geram desconforto e medo;
informações negativas divulgadas pela mídia, ou por indivíduos, ajudam a propagar o medo.
A partir disso, já se pode ter uma ideia de como os espaços públicos (não) deveriam ser, para que as pessoas experienciem positivamente a cidade. Um aspecto de grande importância que contribui para a sensação de segurança no espaço público é a presença de outras pessoas. Isso faz com que exista a vigilância natural, exercida por quem está no local, com um tom mais informal e com menos hostilidade que o policiamento, sendo também mais eficaz. O Vivacidade defende muito essa ideia! E não é à toa que realiza projetos e ações que incentivam as pessoas a irem para a rua, né?
Nos térreos não-residenciais, as ‘fachadas ativas’ são uma excelente estratégia para promover trocas e estimular o convívio social. Trata-se do conjunto de edificações e das atividades que acontecem nelas, localizadas no alinhamento com as calçadas, onde a relação do espaço privado com o espaço público acontece de forma direta. A interação de pedestres e atividades ocorre por meio da permeabilidade (pode ser física ou visual), quando as aberturas permitem que o pedestre explore um pouco do ambiente interno. Vitrines de lojas e cafés/restaurantes com mesinhas visíveis da calçada (ou, melhor ainda, na calçada mesmo) são ótimos exemplos que ajudam a qualificar o espaço público. É claro que calçadas adequadas, espaçosas e arborizadas também contribuem muito com o conjunto.
É importante ter em mente que lugares com pessoas tendem a atrair mais pessoas (e o contrário também vale). Além disso, o ideal é que as ruas sejam frequentadas por diferentes grupos, em diversos horários e dias da semana. A ‘diversidade de usos’ (mescla entre habitação, comércio/serviços, instituições, parques e outros) contribui para gerar essa movimentação de pessoas. Além disso, estimula que as pessoas se desloquem a pé, já que as curtas distâncias tornam fácil o acesso a locais de interesse.
Um caso interessante, em que a dinâmica do lugar mudou para melhor, é no Passeio Verão da Escadaria da Borges, em Porto Alegre. Antes, lá por 2016, o local era de passagem, fazendo conexão entre as ruas em níveis diferentes e também dando acesso a um prédio residencial. Tirando a beleza da escadaria em si, que é um ícone histórico da cidade, não era um local convidativo ao pedestre. Refletindo sobre alguns aspectos mencionados antes, é possível ter algumas pistas da(s) causa(s). Porém, depois que um bar se instalou ali, com acesso direto à calçada e espaço para mesas e cadeiras na área externa, o local passou a ser frequentado por mais pessoas. Consequentemente, a sensação de passar por ali ficou muito mais agradável e atraente.
Tratar o tema da segurança no espaço público não é fácil, mas é necessário. Existem muitas alternativas que podem contribuir para que as ruas sejam mais agradáveis e façam as pessoas se sentirem bem. É importante frisar que não há fórmulas prontas para aplicar em qualquer local. Cada um tem sua complexidade e merece ser estudado para receber a melhor qualificação possível.
Preste atenção aos locais onde você se sente inseguro e veja quais características citadas nesse texto existem neles. Depois, compare com espaços públicos onde você se sente confortável. E conte para nós nos comentários!
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